12 dias sem você...

Dona da clínica: Lúcia

Monitor diurno da clínica: Marcel

Monitor noturno da clínica: Sergi

 Hoje, 2 de Setembro de 2012 fazem exatamente 12 dias que você foi em busca de ajuda, meu amor! Meu coração vibra de felicidade ao saber que está seguro e longe de tudo que te prejudica e te causa tanto sofrimento. Da primeira vez que você foi, não pude te ajudar e acompanhar a sua recuperação de perto, mas agora eu posso e vou. Você me conhece e sabe que apesar de todas as coisas que eu te disse nos momentos de raiva, eu JAMAIS te abandonaria e não te abandonaria pelo simples fato de te amar incondicionalmente.

Hoje recebi a ligação da dona Lúcia logo pela manhã e não pude atender pois estava na missa. Assim que pude, retornei e então ela me disse que o Alemão e mais outros internos, antes de ontem (sexta, 31 de AGOSTO de 2012) sob influencia de um outro, aproveitavam um descuido de um dos monitores, se juntaram num quarto e deram "dois bolos" cada um, com uma sandália de borracha, na mão de um outro interno que é mais doente que eles, que é perturbado mentalmente e que realmente é bem chato pois fica de "leva e trás" e cheio de conversinha. Disseram ao agredido ainda que se ele contasse a alguém, apanharia mais. Acontece que o agredido acordou com as mãos inchadas e foi "obrigado" a falar a verdade.

 A idéia não partiu do Alemão, mas ele participou do "festival de bofetadas", e se antes poderíamos falar com ele daqui a 10 dias, essa mordomia lhe foi adiada. Não só a ele como a todos os que participaram. Como castigo só vamos poder falar com ele daqui a 3 semanas, por conta da medida disciplinar que lhe foi aplicada. 

Ontem (sábado, 1 de SETEMBRO de 2012), Alemão e os outros internos souberam da medida disciplinar e não ficaram nada satisfeitos com a noticia e aprontaram ainda pior: colocaram fogo nos colchões, o fogo se alastrou e GRAÇAS A DEUS ninguém saiu ferido, mas foi preciso auxilio não só da polícia como do corpo de bombeiros. Abismada e profundamente triste, quis desligar o telefone com dona Lúcia, foi quando ela me disse: "Nós sabemos que essa idéia também não partiu do Alemão, mas infelizmente ele foi omisso mais uma vez e enquanto ele agir pela cabeça dos outros e fizer o que os outros quiserem que ele faça, ele não sairá dessa vida!" e completou: "Eles fizeram isso pois sabem que qualquer atitude desse tipo resulta em advertência e expulsão e é exatamente isso que eles queriam: expulsão! Mas isso não vai acontecer, não vou expulsa-los, vou continuar com eles aqui! Fique calma Luiza, nós vamos virar esse jogo!" foi então que desligamos.

Eu quis ligar pra ele e gritar: "COMO VOCÊ PODE? QUEM É VOCÊ? QUEM É VOCÊ, PELO AMOR DE DEUS? VOCÊ NÃO É O ALEMÃO QUE EU CONHECI, VOCÊ NÃO É O ALEMÃO QUE EU ESCOLHI PARA SER PAI DOS NOSSOS FUTUROS FILHOS!", mas felizmente isso não me foi possível, não me perdoaria por agir de cabeça quente com ele mais uma vez.

Hoje passei o dia ligando para Marcel e também para Sergi, eles sempre me falando como ele estava e como estava reagindo.

Agora a pouco falei com Sergi e com Marcel, eles me disseram que ele está tranquilo, como sempre foi. Disseram ainda que Alemão não colocou fogo em nenhum colchão, ele pegou o colchão para tapar a passagem, mas que não colocou fogo em colchão nenhum. Foi omisso mais uma vez a atos marginais. Eles me disseram ainda que inicialmente a idéia era trancar todos os monitores e fugir, mas Alemão o tempo todo deixou claro que não ia fugir, ia apenas ajudar, para poder ter contato com a família e comigo. Ele e os outros internos influenciados não imaginaram que o fogo ia tomar as proporções que tomou.

Eles me traquilizaram, disseram que Alemão, assim como os outros, foi influenciado e que existem três internos que são terríveis lá, que são maus mesmo, que agem com maldade de com intenção de fazer bagunça. Algumas medida serão tomadas para puni-los, afim de que reconheçam o erro e não persistam nele.

Sergi me disse ainda que Alemão todos os dias pergunta por mim. Disse também que a abstinência existe, mas que ele no fundo, no fundo, acredita que Alemão participou disso tudo nem tanto pela abstinência da droga, mas pela  vontade que ele tem de falar comigo, de ouvir a minha voz, de saber que eu estou com ele ainda. Mas me pediu pra ter tranquilidade, que o que ele puder fazer pelo Alemão, o fará.

Estou muito preocupada, sempre percebi no Alemão um fraco para "más influencias", mas tenho certeza absoluta que ele nunca faria mal a ninguém, pois diversas verses testei a sua paciência (mesmo que inconscientemente), muitas foram as vezes que ele poderia ter tido uma atitude de violência, no entando não o fez. 

Meu pai ainda não sabe, aliás, encontrei com ele no sábado e ele me perguntou por Alemão, eu inventei uma mentira tão cabeluda que eu tenho certeza que ele sacou. Sei lá, não posso contar pra ele. Aliás, não podia!! Já prometi para mim mesma que se meu pai me perguntar algo, vou falar a verdade: que fui obrigada a mentir pra ele, pois ele nunca me deu apoio em relação a esse assunto, mas que o que ele sempre pregou aconteceu: Alemão recaiu, voltou a ser internado e eu realmente estou sofrendo muito, tudo exatamente como ele disse que aconteceria. Vou perguntar ainda se ele está feliz, se vai novamente me virar as costas, virar as costas pra Alemão e direi ainda que se eu infelizmente tiver que escolher, vou escolher o meu amor, o homem que eu escolhi pra viver, pois assim como Alemão precisa de mim, eu preciso dele.

Enfim, graças a Deus posso contar com algumas amigas, mas principalmente: ainda bem que posso contar com minha mãe e minha irmã mais velha.

No mais, vou vivendo um dia de cada vez. Aprendendo a conviver com a saudade, a tristeza por não te-lo perto e por não poder dormir abraçada com ele todos os dias, sobretudo, aprendendo a como lidar com a situação com a ajuda de profissionais da própria clínica, que me orientam como agir e o que devo ou não dizer.

Agora vou dormir, amanhã é dia de trabalho, faculdade e mais um dia para driblar esse turbilhão de emoções que acontecem dentro de mim.

Meu amor, que saudade de você! Nossa, como é doloroso ficar sem te ouvir e sem te ver.. Mas, já que não posso fazer nada disso, lembro com saudade e cheia de amor da frase dita por você todas as noites antes de dormir: "Boa noite, dorme com Deus. Ora!! Por todos, até pelos que não gostam de você! Qualquer coisa me chama, tá?" (risos). Você é um fofo!!! Estou com você meu amor, mesmo que não fisicamente, mas em pensamentos e sentimentos. Fique o tempo que for necessário, eu esperarei. Te amo muito, muito, muito!!! Saudades!!!